De quando em quando, mudanças são feitas na história da humanidade. E muitas delas tem diversos motivos, intenções e direções. O século XX foi um dos mais singulares pelo grande número de acontecimentos que mudaram a nossa recente história, como duas Guerras Mundiais, Guerra Fria, diversos movimentos políticos e culturais em diversas partes do mundo, fim da União Soviética e afins, e isso só para citar os mais famosos.
Com isso, o mundo nesse século fervilhava por mudanças de todos os tipos, sentidos e caminhos. Parte da nova geração queria quebrar o ciclo de seus pais e avós através de uma nova metalinguagem chamada contracultura. Nada mais é, em termos genéricos, que a quebra de padrões que a sociedade burguesa impunha a todas as pessoas. A nova geração estava percebendo que ao seu redor nada fazia sentido, principalmente pelas guerras inconvenientes, discriminações raciais e injustiças cada vez mais latentes.
Decididos a mudar, começaram a externar seus questionamentos e esse foi o primeiro e fundamental passo. A partir daí, foram encontrando pessoas com essa mesma vontade e assim foram construindo laços e começaram a construir pontes cujo maior objetivo era a liberdade não só de pensamento, mas de várias áreas inerentes ao ser humano e que antes viviam presas aos tabus da época.
Desse modo, os efeitos da contracultura na sociedade foram sendo moldados e incutidos na cabeça de diversas pessoas, das mais variadas classes sociais até chegar às pessoas que tinham grande influência, como era o caso dos artistas. Conseguiram então lançar novos estilos de vida, moda, atitudes, linguagens e reflexões críticas sobre guerra e política e assim conseguiam borbulhar tais sentimentos para ainda mais jovens. Traziam à tona um novo jeito de pensar, agir e se comportar.
Um dos pioneiros foi o movimento Geração Beat, que surgiu nos EUA na década de 1950. Nessa época, na música, também já estava fervilhando manifestações com músicos como Elvis, Chuck Berry, Little Richard e o jazz, gênero que se sobressaia e que mais inspirou esse grupo. Esse movimento fez o conceito da própria expressão contracultura, pois eles se expressavam contra o mainstream, criticando o padrão de vida burguês por exemplo. Para eles, o ideal seria a liberdade do indivíduo, sua conexão com a natureza e uma espiritualidade que se buscava na arte.
O auge da contracultura veio na década de 60. Jovens começaram a questionar, de maneira efusiva, valores sociais e culturais. O grupo que mais se destacou foi, sem dúvidas, o movimento Hippie, amplamente conhecido até os dias de hoje. Eram contra os valores culturais importantes na sociedade da época, como as coisas excessivas: trabalho, patriotismo, nacionalismo e a “estética padrão”. Eram a favor de mais liberdade sexual, paz, tolerância e igualdade entre as raças e gêneros, consumo da maconha e do LSD.
Um dos grandes marcos da história do movimento Hippie foi o Festival de Woodstock, ocorrido em Nova Iorque no ano de 1969. Diversos artistas influentes e adeptos à causa e ao movimento como Bob Dylan, Santana, Grateful Dead, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin, The Who, Jimi Hendrix, dentre outros, foram essenciais às críticas e à contestação que o movimento pregava. O evento foi organizado com a intenção de afirmar a cultura hippie, pregar a paz e o amor e protestar contra a Guerra do Vietnã, que já se arrastava havia 10 anos.
Especificamente no Brasil, também tivemos grandes movimentos de contracultura. Na década de 60, muitos jovens buscaram lutar contra as formas de repressão que a Ditadura Militar impôs durante todo o período vigente. Formados por diversas categorias, a que mais se destacou foi a música, com a MPB, o Rock, o Samba e a Psicodelia, por sua capacidade de influência. Artistas renomados utilizaram suas músicas para criticar a Ditadura e as opressões dos militares.
Outros movimentos, nem tão ligados à música como os anteriores, mas também não menos importantes, foram o Movimento Feminista, que buscava mais liberdade para as mulheres e autonomia em todos os setores da sociedade; e o Movimento Negro, sendo este último tendo como episódio uma das passeatas mais importantes e um dos discursos mais impactantes da história: “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King. Mudaram ali toda a história da população negra nos EUA e no resto do mundo.
Movimentos como esses só mostram como é importante, a cada momento de nossa história, acontecerem para chacoalhar o rumo da própria civilização. Contestar os absurdos amplamente intrínseco a alma dos revolucionários, como é o movimento da contracultura e do gênero musical mais contestador da história: o Rock!
E aqui em nossa cidade, Bom Conselho, temos um movimento de contracultura para não só contestar o “normal” que nos é imposto pela sociedade, mas para divulgar o diferente, o alternativo e a pluralidade de ideias e pensamentos. É isso que movimentos como o Bom ComRock e a Rádio BCR se dispõem a fazer não através de um líder ou um chefe, mas através de todas as criaturas que, em um sentido de comunidade/irmandade, colocam para frente todas essas manifestações culturais da cidade bom-conselhense para a população local e região e quiça pro mundo.
Autor: Álvaro Tavares, um entusiasta das artes, em especial a música.